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Era uma vez três criancinhas...


por LELIANE MORAES, jornalista


Normalmente quando volto do trabalho, divido o ônibus com um grupo de adolescentes barulhentos que estão indo à escola nesse mesmo horário. Portanto não posso deixar de reparar no comportamento deles, em especial das meninas, que devem estar na faixa etária de uns 13, 14 no máximo uns 15 anos. Essas garotas demonstram uma inquietude que ultrapassa o habitual justificável pela idade, tamanho o alvoroço que causam no coletivo, tanto que a viagem para os demais torna-se insuportável. São gritos e gargalhadas descontroladas, ficam em pé e abordam os transeuntes (do sexo masculino) das calçadas, dizendo palavras que eu me envergonharia de mencionar até mesmo ao meu namorado, mas elas nem se importam de dirigi-las a desconhecidos. O papo é sempre o mesmo: “Detesto estudar, vou colar do fulano, quero ficar com ciclano...”, cada vez mais cedo a preocupação fica em torno de aventuras amorosas e o esquecimento de áreas como profissão e estudo é absolutamente natural.
Tudo bem, eu concordo que adolescência é uma fase onde a irresponsabilidade é permitida e perdoada. Mas, limites impostos por pais e educadores são bem vindos, porque o jovem irresponsável de hoje será o adulto inconseqüente de amanhã. E é desde cedo que os valores éticos devem ser ensinados e aprendidos. Eu tenho uma espécie de “amizade” com uma delas, para me criar menos problemas no caso de ter que acalmá-las durante o trajeto, me aproximei dessa garota. Posso descrevê-la com uma oscilação entre doçura e agressividade, ela sorri bastante, mas é muito infeliz consigo mesma, tem atitudes incoerentes e uma impulsividade fora do controle.
Com o tempo de convivência nas viagens de ônibus, ela foi me explicando a vida dela, me confidenciando alguns atos e pedindo aconselhamento para outros. Com muito prazer, eu na minha leiga orientação psicológica, tento detalhar o que considero ser melhor à menina. Digo que ela tem que se centrar em estudos, empregar o pouco dinheiro que ela ganha, em mesadas e bicos, em coisas úteis e no que ela realmente esteja precisando ou querendo, digo também para não se deixar influenciar pela cabeça dos outros, que amizades verdadeiras são raras e que ela deve desconfiar mais do que acreditar. Isso parece ajudá-la de alguma maneira e fico feliz.
Na última semana ela me vem com uma novidade, eufórica me conta que será tia, eu parabenizo e começo a perguntar mais sobre o assunto. Trata-se de sua irmã mais nova que escondia a gravidez há seis meses usando apenas roupas bem largas. A criança grávida tem apenas 13 anos, perdeu a virgindade com 12 e o pai do bebê é um garoto de 14. Analisando esse quadro, embora não seja a primeira vez que isso aconteça e nem será a última, eu não pude deixar de refletir sobre o assunto.
Quando eu tinha 12 anos eu brincava de Barbie, me interessava por garotos, isso é óbvio, mas eu tinha uma ingenuidade invejável, que encostar na mão do meu “amado” já me saciava e me fazia delirar por uns bons meses. Não quero ser moralista e nem antiquada nesse discurso, creio que beijos, abraços e apertos de mão nunca fizeram e nem nunca farão mal a ninguém. Mas uma criança de 12 anos nem tem o corpo formado para ter uma vida sexual ativa e muito menos para gerar um bebê. O médico da irmã da minha companheira de ônibus disse que a gravidez é de alto risco, uma mulher de 13 anos de idade não tem condições físicas recomendáveis para ter uma gravidez saudável nem a ela e nem a criança.

Os pais dessa menina quiseram expulsá-la de casa no primeiro momento e, posteriormente resolveram deixá-la ficar. O pai do bebê arranjou um emprego de salário irrisório para ajudar nas despesas. A minha amiguinha me relatou que seus pais sempre foram muito rígidos e nunca permitiram que elas namorassem, o que as obrigavam fazer tudo escondido, depois da descoberta, eles ficaram muito surpresos e a reação foi colocar a filha para a fora de casa. Como quem se livra de um objeto que não serve mais, ou de um equipamento que está com problemas, a falta de juízo dessa menina é apenas o reflexo dos erros de orientação paternos, pois alguém com 12 anos não tem capacidade de discernimento. Ela até sabia bem que estava fazendo algo errado, mas não mediu as conseqüências, pois não foi devidamente orientada e sim proibida.
Ao invés de dizer não, explique as razões pelas quais não são recomendáveis tais atitudes, exemplifique conseqüências, talvez um diálogo aberto e uma relação de amizade funcionassem melhor que uma repreensão. Agora o que está feito está feito, a menina perderá anos escolares, talvez nem volte mais para a escola, nesse país onde é difícil até para os preparados, imagine para os que não possuem preparo algum, a criança que está chegando nem imagina o transtorno que está causando a seus pais, mas assim que chegar sentirá a cada dia a rejeição de sua família, principalmente de sua mãe que tentará empurrar o bebê para a avó, para recuperar a juventude roubada por sua irresponsabilidade. E o pai que crescerá e encontrará outras mulheres, quem sabe tenha outros filhos e este primeiro fique um tanto quanto esquecido no seu passado, como uma travessura de adolescente. Mas quem sou eu para tentar adivinhar o futuro dessas três crianças?