(foto extraída da página www.bahia.com.br)
por Cyro Saadeh*
Creio que não tenha contado a absolutamente ninguém que há uns 2 anos e meio havia iniciado um longo escrito sobre Canudos e o seu açude Cocorobó. Tinha lá umas 30 páginas com uma redação para lá de caprichada e poética e perdi por conta de um problema que tive com esse objeto imprescindível de informática chamado computador.
Acabei desistindo da idéia de escrever, pois isso exigia uma forte inspiração, coisa que já não tinha mais, e optei por realizar um vídeo complementar àquela proposta, o de retratar a realidade infantil naquilo que poderia ter sido chamado de barbárie contra a infância. Trata-se de projeto e está configurado como tal. Um dia, como planeja e sonha todo documentarista e também os cineastas, irei realizar essa idéia.
Muitos não sabem, mas as crianças carregaram as dores da guerra de Canudos ou, em outras palavras, do Brasil contra o Brasil, por muito tempo. Várias centenas tornaram-se órfãs e outro tanto foi levado à prostituição na capital Salvador e em Sergipe. Muitas foram adotadas irregularmente e a história familiar desses seres foi rompida bruscamente.
A realidade, hoje, não é diferente naquela cidade que se denominou de Canudos. Sim, a Canudos atual é na verdade Cocorobó e a Canudos da história ficou submersa por conta de um enorme açude também chamado de Cocorobó. A história de Canudos não se resume a Cocorobó, ou coisa grande em tupi, mas está cercada dessas coisas. É uma ferida mal cicatrizada na história da nossa república. E, se fosse poeta, poderia dizer que Cocorobó é a lágrima de dor.
Fiz um documentário, juntamente com a jornalista Mariana Di Lello, sobre o açude que prometia trazer tranqüilidade e sossego aos persistentes moradores da região e que pôs fim à possibilidade de vermos o que restou das 4 famigeradas guerras de brasileiros pobres vindos de todos os cantos contra brasileiros sonhadores do sertão.
Muitos dizem muitas coisas sobre o projeto de Antônio Conselheiro. Era implantar o socialismo; era criar um movimento de lutar por terras, embrionário do MST; era um movimento estritamente religioso; era um movimento de loucos; era um movimento financiado por potências estrangeiras; era um movimento financiado por setores avessos à forma republicana de governo. São tantas as teorias e elucubrações. O que posso afirmar, por ter estudado e pesquisado, é que o movimento era de brasileiros que passavam necessidades e que criam na possibilidade de mudança dessa realidade.
A história de lá é tão rica. Nunca é demais ler 1, 2, 3 ou dezenas de vezes a obra de Euclydes da Cunha, “Os Sertões”, um marco na história do Brasil e uma das obras-primas da humanidade.
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* jornalista