Quem não conhece Canudos perde muito da história e da realidade social e política brasileira. Canudos é um aprendizado profundo e único. É um ponto sensível da história do Brasil, pode-se dizer. Um momento em que brasileiros pobres mataram outros brasileiros pobres, por ordem superior. Àquela época não se conhecia e nem se pretendia conhecer a diversidade da nossa Nação. Era a costa litorânea europeizada contra o interior fruto da miscigenação típica brasileira.
Era uma ética européia contra uma religiosidade e solidariedade da miscigenação do índio, do negro e do português. Era o momento do sertanejo forte de Euclydes da Cunha. Era um momento de atuação política e social.
Mas Canudos não era só pedra e barro. Canudos não era só religiosidade e justiça social. Canudos era criança e esperança. Era uma vida em busca da dignidade que redundou, no pós-guerra, na miséria humana absoluta, com crianças sendo prostituídas ou utilizadas como trabalho ilegal e barato.
A realidade da cidade de Canudos, localizada à beira do açude de Cocorobó não mudou e é motivo de perplexidade, reflexão e indignação. Canudos não morreu com o fogo e nem com a água. Canudos permanece na história oral e na mente de alguns brasileiros, mas não é suficiente. Canudos tem ligações profundas com a política e a injustiça social brasileiras. O Brasil só mudará quando as lições deixadas por Canudos, Euclydes da Cunha e Getúlio Vargas forem compreendidas e aplicadas.
Essa história precisa ser contada e recontada, e poderá ser!
________________________________________________________
* jornalista