Parece tão simples, mas não é! Os homens sempre tentaram descobrir o que é que as mulheres querem na vida, especialmente no tocante ao sexo. Diferentemente dos homens é muito difícil para uma mulher separar sexo de afeto. Não que não existam. Essas são aquelas que povoam as fantasias masculinas e que se tornam poderosas. A mulher padrão, essa que se apaixona e se entrega tem desejos que por vezes não consegue revelar ou até mesmo desconhece. Nossa sociedade e cultura apavoram as mulheres quando o assunto é desejo e prazer. Mesmo nós homens, temos dificuldades em discutir ou conversar com nossas companheiras, filhas, sobrinhas, enfim, nossas mulheres, sobre isso. Existe o mito de que é fazendo e não conversando que as coisas acontecem. É verdade, pena que para pior e não melhor.
Nesses tempos de consumo, causa estranheza a forma como a sexualidade feminina se apresenta. Diferente da masculina, que é mostrada, forte e penetrante, a feminina é receptiva, íntima, acolhedora e vibrante. O prazer feminino está centrado no equivalente peniano masculino, o clitóris. Diferente do pênis, ele deve ser tocado com cuidado (não muito...) e estimulado com firmeza e suavidade; com movimentos ritmos e que aumentam de intensidade. Cada mulher sabe seu ritmo. E como é difícil ela revelá-lo para o parceiro. É a descoberta de um segredo, um tesouro. Seria tão mais simples se elas já abrissem o jogo e mostrassem como deve ser feito.
E a coisa só piora, pois com a intimidade e a freqüência, o prazer clitoriano pode se tornar vaginal. E agora, José?
Ter prazer com uma mulher é um processo cauteloso, também de entrega. Muitas ainda crêem que são anormais por terem facilidade orgásmica, outras por não terem desejo. O Desejo feminino é mediado por tantas variáveis. Diferente do homem, que biologicamente está sempre disponível, a mulher precisa de ambiente, clima. Esse intimismo dá trabalho e faz com que a mulher seja única.
Elas valorizam “pegada”. O homem tem que ser atencioso, mas não bonzinho, bobo. Deve ter opinião própria, sem ser cafajeste. Sedutor sem se preocupar em propaganda. Que faça com que ela se sinta única, não importando que ele tenha outras; ela é especial!
O sexo para as mulheres não se resume no ato e na biologia, mas no sentido maior dele. Não é à toa que na “Epopéia de Gilgamesh”, livro épico mesopotâmico, seu amigo Enkidu se torna homem de verdade e deixa de ser um animal quando tem pela primeira vez relação sexual com uma mulher, uma sacerdotisa.
As mulheres têm o poder de fazer do ato sexual algo sagrado e transformador para os homens. Mas para tanto eles precisam estar abertos para isso. Não é se deixar dominar por uma mulher, mas fazer o seu papel junto dela. Facilitar o orgasmo, ter orgasmo, dar prazer, receber prazer e gostar de mulher.
O interessante dessa história da sexualidade feminina é que muitas nem sabem dela. Parece que o interesse maior é masculino. E é verdade! Aquelas, que se conhecem e sabem buscar e ter prazer, podem manipular qualquer homem e nós temos medo disso. Por isso, o controle que buscamos estabelecer sobre o sexo e o prazer delas. Só que esquecemos que elas são mais inteligentes nesse aspecto. Muitas fazem de conta que aceitam e vão dominando e fazendo o que querem. Isso só confirma a máxima de que a última palavra é sempre da mulher.
Está mais do que na hora de reconhecermos que o sexo forte é o feminino e que os prazeres são diferentes e se queremos compartilhar, só poderemos fazer isso no dia-a-dia, fazendo falando brincando e descobrindo o sexo e o outro. Taí! Talvez devêssemos fazer do sexo uma brincadeira e não algo como se fosse batalha de vida ou de morte. Sexo é vida, pode produzir vida, produz sempre prazer. Como as mulheres saudáveis, está na hora de buscarmos esse prazer em conjunto, valorizando as diferenças e incluindo-as na atividade sexual.
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* psiquiatra e doutor em sexologia