Sexo, que deveria ser algo tranqüilo e afetivo, quase sempre é um problema na vida de um ser humano em alguma fase da vida. Para ser bem sincero, sexo tem tudo para dar errado e a eterna busca pela “normalidade” é um sonho bem distante!
Mas pensem comigo...
Tudo começa com o desenvolvimento embrionário a partir de genes e cromossomos. Esse desenvolvimento pode ser alterado em qualquer fase, o que pode originar um ser humano com genitália ambígua, um intersexo, antigamente chamado de pseudo-hermafrodita ou hermafrodita. Se tudo correu bem e a criança nasceu sem anomalia alguma em sua genitália, começa o processo de identidade sexual ou de gênero, que nada mais é do que a certeza psicológica de ser homem ou mulher. Acredita-se, hoje em dia, que isso começa na formação do feto, por fatores biológicos e se concretiza na primeira infância por fatores psicológicos e de relacionamento com a mãe e o pai.
Definida a identidade, inicia-se, em paralelo, a definição da orientação sexual, que nada mais é do que a clareza que se tem de se ter desejo por alguém do mesmo sexo (homossexualidade), do
outro (heterossexualidade) ou dos dois (bissexualidade).
A coisa não acaba por aqui...
Existem pessoas que apesar de tudo isso definido, têm “apetites”, desejos, tesões específicos, chamados de parafilias. Ter prazer em sofrer, infligir sofrimento, observar pessoas em atividade sexual sem que elas saibam, em crianças, etc, são alguns dos exemplos possíveis (a variedade é enorme...).
Depois existem ainda os problemas no desempenho sexual propriamente dito, que nada mais são do que a disfunção erétil, a antigamente chamada de ejaculação precoce, perda de desejo sexual, vaginismo, dispareunia, etc.
Se ainda não bastasse, restam as crenças culturais que só fazem atrapalhar a vida sexual das pessoas. Questões como tamanho do pênis, sexo com afeto ou sem, querer gozar juntos, valores morais e religiosos ligados à masturbação, etc.
Por tudo exposto, acho que é possível perceber que ter uma sexualidade tranqüila exige de qualquer um, maturidade e paz de espírito, além de sorte, dedicação e uma formação anatômica bem feita. A questão biológica é imponderável, mas as outras necessitam nosso empenho e desenvolvimento pessoal para desprezar preconceitos e valores obsoletos. Muito da sexualidade não é opção, não é escolha, um outro tanto é se livrar das crenças e valores populares e morais. E não esquecer que sexo solitário é masturbatório; sexo a dois é aquele que respeita desejos e disponibilidades específicas. E aí, não tem certo ou errado, só o possível para cada um dos componentes da transa.
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* psiquiatra e doutor em sexologia