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A FALTA DE BOA INFORMAÇÃO E O TOTALITARISMO


por Cyro Saadeh*



Vivemos numa sociedade ocidental incoerente, hipócrita e perigosa. E isso não ocorre só no Brasil. É um fenômeno crescente no mundo.


Nos Estados Unidos, a mídia tem recriminado uma atriz adolescente de 15 anos por ter posado com sensualidade para uma famosa revista de moda. O julgamento não é de legalidade, mas de moralidade. E, no entanto, essa mesma sociedade estadunidense e ocidental valoriza as jovens que aos 13, 14 ou 15 anos se tornam modelos de passarela, vestindo lingeries ou maiôs curtíssimos. Ou seja, além de um julgamento moral, há muita hipocrisia e, o que é pior, a utilização da opinião pública para excessos que podem beirar, sim, um apego ao totalitarismo.


Há uma década, um então presidente estadunidense corria o risco de sofrer processo de impeachment por ter mantido relações sexuais com uma estagiária da Casa Branca. O julgamento não era legal, mas moral e o sincero Clinton se livrou por muito pouco de um vexame por um julgamento que ia muito além da aprovação de seu mandato ou não.

Além disso, a mídia tem fomentado julgamentos fáceis e irresponsáveis, como o de apontar como “verdadeiros causadores” da morte da pequena Isabella o seu genitor e a namorada deste, sem provas; o de responsabilização de uma ministra pela produção de um dossiê sobre o uso de cartões corporativos no governo FHC, também sem provas; e o de apontar a aproximação do candidato Obama com um pastor radical, sem a mínima comprovação, e por aí vai.


Vivemos uma época de uma mídia pobre, com a falta de incentivo ao bom jornalismo, onde tem reinado tão somente o interesse de marketing de grandes grupos de comunicação e a reprodução da matéria produzida por uma ou outra agência noticiosa internacional.

Os meios de comunicação, hoje, reproduzem muitas notícias que beiram a fofocas irresponsáveis, não investiga o que é apontado por uma suposta fonte e é superficial na apreciação dos fatos, o que representa a miséria do jornalismo e do sonho de levar a informação e não deformação.

Esses julgamentos prévios e essa sede de vingança que a mídia cria nas pessoas é algo preocupante. É algo que se contrapõe a um estado democrático de direito. É uma pólvora que se instala nos corações das pessoas e que atenta contra os valores fundamentais da nossa pátria, como o dos Direitos Humanos, a solidariedade e a informação como algo sério e fundamental à sociedade.

O contínuo desrespeito a valores fundamentais e a radicalização de posicionamentos é algo extremamente perigoso à democracia, às minorias e aos Direitos Humanos. Sim, é algo que o Ministério da Justiça e o Poder Judiciário, e não apenas o Ministério das Comunicações, devem observar muito de perto. Não podemos viver mais épocas de totalitarismo e de falta de acesso à boa informação.

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* jornalista e colaborador do JP