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A HOMOSSEXUALIDADE E NÓS

por Alexandre Saadeh, psiquiatra e sexólogo


(Imagem de domínio público - "O Nascimento de Vênus", de Sandro Botticelli - Web Museum)

A questão da diferença está mais do que impressa na sexualidade humana. Anatomicamente somos distintos como machos e fêmeas e mesmo dentro dessas categorias existem diferenças individuais. As anatômicas nos causam desconforto, seja por que implicam beleza, masculinidade, feminilidade ou mesmo fantasias sexuais (tamanho de mamas, de pênis, musculatura, gordura corporal, etc.). Tendemos a ver, como nossos antepassados que “perfeição” física e beleza é um dom que veio de Deus e que se traduz em bondade, confiança e bom caráter. Nada mais irreal. O mesmo se dá com a orientação sexual de cada um de nós. Pode parecer incrível, mas não optamos, escolhemos se vamos ter desejo ou tesão por homem, mulher ou ambos. Não é uma questão de consciência ou de moral; é uma questão de desejo e esse não depende da vontade e sim de algo ainda indefinível. Por isso a Medicina e a Psicologia aboliram o termo opção quando se fala de homossexualidade. Não é, na verdade, uma opção e sim uma falta de opção, como muitos homossexuais falam.


Também a homossexualidade não implica em marcas de caráter de maneira geral. Significa apenas ter desejo por alguém do mesmo sexo e não bondade, honestidade, chatice, agressividade, etc. Existem homossexuais bons, maus, honestos, desonestos, chatos, legais, como qualquer outra pessoa, seja ela heterossexual, bissexual, transexual, ou sei lá mais o quê. Quem a pessoa é ou se torna tem relação com as heranças genéticas, a educação, as vivências pessoais e afetivas. A homossexualidade parece ter forte herança genética, mas não só. Ainda não podemos afirmar causa ou causas, mas o importante é saber que não é doença e muito menos sem-vergonhice. Se formos pesquisar de verdade, à nossa volta existem muito mais homossexuais do que sabemos e isso não muda nada em nossas vidas. São pessoas como outras quaisquer, vivendo, amando, se frustrando e fazendo o melhor para si e para o mundo. Não vale à pena romantizar a homossexualidade também. Não são melhores nem piores. Possivelmente sofrem mais por conta da diferença e muitas vezes da exclusão que sofrem socialmente ou que se impõem.


Já é tão difícil viver de maneira íntegra, responsável e gentil com os outros, por que buscar na diferença a exclusão de pessoas que não conhecemos ou que se conhecemos, a orientação sexual (esse é o termo técnico), é apenas mais uma característica dela e talvez, na maioria dos casos, a menos importante?


Quem se preocupa menos com sexualidade alheia tem mais chances de se ocupar de sua própria sexualidade e aí sim se realizar nela!